Sunday, March 17, 2024

Massachusetts town grapples with sea rise after sand barrier fails - TheGardian

A sand dune erected to protect homes in Salisbury, Massachusetts, washed away in three days. Photograph: WCVB Channel 5 Boston
 

A $500,000 sand dune collapsed in days after being erected, and residents are looking for help to protect their homes


On the border with New Hampshire and Massachusetts – about 35 miles north of Boston – is Salisbury, a coastal town and popular summer destination for tourists. But for those who live in the town year round, especially those who live on the coastline, life’s not a beach.

Last month, after a series of storms battered the area, local citizens came together to take the necessary steps to protect their homes. Volunteer organization Salisbury Beach Citizens for Change raised more than $500,000 to erect a 15,000-ton sand dune – a formidable barrier that would hopefully protect at least 15 beach houses from destruction.

Or so they thought. The sand dune was completed after one month in early March, but just three days later, the dune – and nearly half a million dollars lost

The tragic incident made the project a laughingstock to some and angered others.

But Tom Saab, the president of the organization, doubled down on the dune.

“The dunes we built were sacrificial. They sacrificed themselves to protect the properties. Water didn’t go into people’s living rooms, destroy houses, destroy decks, patios and so on. So the dunes worked,” Saab said. “However, now we’re vulnerable to another nor’easter because we need to somehow replenish what we lost.”

On the Salisbury Beach Citizens for Change’s Facebook page, one person commented on a post about the sand dune debacle: “Your houses sit right on an ever rising and ever violent sea. Do you really think any amount of money will stop what’s inevitable?”

As weather patterns get more extreme and oceans get warmer, sea levels rise due to thermal expansion and weather patterns get more extreme, boosting coastal erosion. This climate crisis is now on the doorstep of Salisbury beach homeowners, as they suffer the consequences of rising sea levels, stronger winds and severe storms in recent months, including two in January.

“It was devastating,” Saab said about the recent storms. “Water went from the ocean into people’s living rooms and kitchens. Patios were destroyed. And at least one home was deemed uninhabitable.”

It’s a problem which Saab said should now officially be the responsibility of the government, as Salisbury is a public state beach and the area is susceptible to nor’easters and hurricanes due to its proximity to the Atlantic Ocean. So now his group is pushing for state assistance.

“You just need financial help from the state. And there’s a problem,” Saab said. “Governor [Maura] Healey’s administration is a major hindrance to protecting the beach.”

After several meetings with local and state government officials, including one on 14 March, Saab kept getting the same answer. The state has yet to pitch in financially for some kind of protection mechanism against the encroaching tides, the most recent of which was a record 14ft.

Saab said he suggested cheaper alternatives to protecting the homes, including filling plastic trash bags with sand to create a barrier or sand harvesting, which Saab described as a fairly simple and much more affordable option.

New Data Details the Risk of Sea-Level Rise for U.S. Coastal Cities

Tuesday, February 20, 2024

Aquecimento global e descaso impulsionam dengue no Brasil


 

Gustavo Basso de São Paulo DW

Dados do governo indicam que país pode ter pior epidemia de dengue da sua história em 2024. Calor extremo e locais com acúmulo de lixo favorecem proliferação do mosquito transmissor da doença.




Resistindo às dores no quadril e coceira pelo corpo, o aposentado Aramis de Lima, de 62 anos, assiste com alívio a um batalhão de funcionários da limpeza pública retirarem cerca de duas toneladas de lixo e entulho do terreno vizinho a sua casa. Ele acredita que, se tivessem vindo duas semanas antes, já em meio à rápida expansão da dengue, teria escapado de sua primeira contaminação pela doença.

"Aqui na rua, 90% dos moradores pegou, certamente por causa desse lixo que estava acumulado", acredita. "Minhas netas tiveram sintomas que provavelmente foram de dengue, mas eu tenho histórico de amputação, dores em decorrência disso, aí juntou com a doença e resultou em dores muito fortes, espasmos musculares. Foi complicado", conta. Como sequela temporária, comum para a doença, ficaram as coceiras pelo corpo.

Pelas ruas da Vila Jaguara, na zona oeste de São Paulo, não faltam áreas e terrenos que sejam alvos da indignação de Lima e seus vizinhos. Numa área de pouco mais de dois quilômetros quadrados, equipes de saúde mapearam ao menos seis ferro-velhos e focos de acúmulo de lixo e entulho perfeitos para a procriação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, do zika vírus e da chikungunya.

Paralelamente, 7.369 imóveis receberam intervenções com inseticida ou assistência social para evitar os focos do mosquito entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano.

Os esforços, porém, não tiveram sucesso e não impediram a Vila Jaguara de deter o título de epicentro da dengue no município de São Paulo. Por lá, a taxa de contaminação é 28 vezes maior que a média paulistana. No Brasil, perde apenas para o Distrito Federal, onde cerca de 2,5% da população contraiu o vírus da dengue nos últimos meses.


Estufa de mosquito

Em condições normais de temperatura e chuva, o ciclo de vida do Aedes aegypti, da colocação dos ovos até a formação do mosquito, é de sete a dez dias, explica o coordenador de vigilância em saúde da capital paulista, Luiz Artur Caldeira.

"Se a condição for, por exemplo, de muito calor intenso, esse período pode baixar para até quatro dias, dobrando assim o número de mosquitos em relação ao ciclo normal", alerta. "Isso é algo que vem ocorrendo em boa parte do país desde pelo menos setembro do ano passado, muito por conta do El Niño", afirma, referindo-se ao fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador.

Especialistas vem alertando que os fenômenos climáticos extremos de 2023 são fruto direto do aquecimento global provocado pela ação humana. No entendimento do epidemiologista e professor da USP Paulo Lotufo, o que a atual epidemia de dengue ilustra é a extensão dos impactos que as mudanças climáticas gerarão sobre as populações humanas.

"Quanto maior for o aquecimento do planeta, mais o mosquito vai conseguir se reproduzir. Tanto é assim que ele já está chegando a lugares onde há muito tempo não estava, como Estados Unidos e Argentina. Até bem pouco tempo seria inimaginável fazer fumigação às margens do rio Sena, em Paris, para eliminação do Aedes", explica.

Com o calor dos últimos meses, os brasileiros vêm sentindo na própria saúde essa explosão da proliferação dos mosquitos. Em todo o país, o número de casos confirmados ou sob suspeita de dengue já passa de 653 mil — ou um infectado a cada 347 mil brasileiros. No mesmo período de 2023, o número de casos não chegava a 130 mil. Trata-se de um aumento de 294% de um ano para o outro, e que já provocou 113 mortes, enquanto 438 estão sendo investigadas.

Pelos dados do Ministério da Saúde, o avanço da dengue nunca foi tão rápido no Brasil, e o país pode chegar a 4,2 milhões de casos até o fim do ano.

"A taxa de letalidade da população como um todo varia de 3 a 7 por mil, ou seja, 0,3% a 0,7%. Quando eu falo que a taxa de letalidade da dengue é de cerca de 1%, o pessoal fala 'puxa, é pouco', mas não é! É o dobro do que é esperado sem a doença", ressalta Lotufo.



Imunização lenta

De todas as unidades da federação, o Distrito Federal apresenta o cenário mais complicado. Até 10 de fevereiro, data do último boletim epidemiológico, haviam sido registrados 23 óbitos pela doença em meio ao surto, que do ano passado para este explodiu em mais de 1.000%, atingindo quase todas as regiões com gravidade. Na capital do país, quase metade das mortes por dengue é de pessoas com mais de 60 anos.

Apesar da estimativa de que 70% da população da Vila Jaguara, em São Paulo, esteja nesse grupo, nenhuma morte foi registrada por dengue neste ano no bairro. O que não impede, entretanto, que moradores mais velhos temam a doença.

"Moro há 60 anos aqui e nunca vi nada parecido. Até mesmo minha filha e meus netos têm deixado de me visitar nas últimas semanas por medo desse surto provocado pelo lixo espalhado. Esperamos que agora melhore, mas o repelente está sempre na mão, não desgrudamos dele", conta a aposentada Nanci Albanez, que diz aguardar ansiosa pela vacina, que não tem prazo para chegar à maior cidade do país.

Por conta de limitações na produção da farmacêutica japonesa Takeda Pharma, o Ministério da Saúde adquiriu para este ano o suficiente para imunizar 2,5 milhões de pessoas com a vacina Qdenga. Por conta disso, apenas 10% de todos os municípios do país serão contemplados este ano, 11 deles em São Paulo, onde a vacinação começa nesta terça-feira (20/02), com crianças entre 10 e 11 anos na região do Alto Tietê.

A partir de 2025, entrará em campo ainda a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, que ao contrário da japonesa, exige aplicação única. O epidemiologista Paulo Lotufo, porém, enfatiza que a vacina é um auxiliar e que, agora e no futuro, o fundamental é reduzir o contato da população com o mosquito.



Monday, February 19, 2024

Martianization - O que são os 'incêndios zumbis' que ameaçam o Canadá no inverno

 

 
O fenômeno aumentou em um ritmo assustador em 2024
Nadine Yousif
Role, Da BBC News em Toronto
 

Mesmo no auge do inverno do Canadá, as brasas da temporada recorde de incêndios florestais do ano passado permanecem.

Os chamados "incêndios zumbis" estão queimando mesmo no inverno - são brasas que continuam vivam no solo sob espessas camadas de neve. E eles crescem a um ritmo sem precedentes, aumentando os temores sobre o que o verão que se aproxima pode trazer.

As pessoas que dirigem na rodovia que passa pela cidade de Fort Nelson, na Colúmbia Britânica, no inverno, podem facilmente ver – e sentir o cheiro – as nuvens de fumaça branca fluindo do solo ao seu redor.

Sonja Leverkus, bombeira e cientista que mora na pequena cidade do nordeste da província, lembra-se de ter dirigido durante uma tempestade de neve em novembro, mas a neve não parecia branca.

 

“Eu nunca tinha visto uma tempestade de neve que cheirasse a fumaça”, disse Leverkus, que mora na região há mais de 15 anos.

As nuvens de fumaça ainda eram visíveis em fevereiro, acrescentou ela, mesmo em dias extremamente frios, quando as temperaturas caíram para -40°C.

 

População de Fort Nelson, como Trevor Scott (foto), notou o aumento das fumaças

 

Incêndios zumbis

A fumaça de Fort Nelson é o resultado de 'incêndios zumbis' - também chamados de 'incêndios de inverno'.

Eles são brasas sem chama que queimam lentamente abaixo da superfície e são mantidos vivos graças a um solo orgânico chamado turfa, comum nas florestas boreais da América do Norte, e a espessas camadas de neve que os isolam do frio.

Esses incêndios não são incomuns. Nos últimos 10 anos, a Colúmbia Britânica viu, em média, cinco ou seis que continuaram a arder durante os meses frios, dizem os especialistas.

Mas em Janeiro deste ano, a província registou um pico sem precedentes de 106 "incêndios zombies ativos", aumentando a preocupação entre os cientistas sobre o que estes incêndios poderão significar para a próxima época de incêndios florestais.

 

A maioria normalmente se apaga por conta própria antes da primavera, mas 91 ainda estão queimando na província, de acordo com dados da administração local.

Aqueles que não forem extintos até março vão gerar um grande risco quando a neve derreter e eles ficarem expostos ao ar. Os cientistas os associaram ao início precoce das temporadas de incêndios florestais.

A província vizinha de Alberta também registros um aumento nestes incêndios de inverno, com 57 focos no início de fevereiro – quase 10 vezes mais do que a média de cinco anos.

“É muito alarmante ver esta combustão contínua durante o inverno, especialmente depois da temporada recorde de incêndios florestais no Canadá no ano passado" ,diz Jennifer Baltzer, professora de biologia na Universidade Wilfrid Laurier.

Mais de 18 milhões de hectares (44 milhões de acres) de terra foram queimados por incêndios florestais no Canadá em 2023 – uma área aproximadamente do tamanho do Camboja – superando em muito a média de 10 anos do país.

A temporada foi uma das mais fatais da história recente, com vários bombeiros morrendo no cumprimento do dever.

Milhares de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas e o efeito foi sentido muito para além das fronteiras do Canadá, quando a fumaça cobriu uma grande parte dos EUA em Junho.

Essa temporada calamitosa de incêndios florestais é uma das razões pelas quais a Columbia Britânica está vendo agora um número tão alto de incêndios zumbis, diz Mike Flannigan, professor e especialista em gerenciamento de incêndios na Universidade Thompson Rivers, no Canadá.

A maioria deles são incêndios que não puderam ser totalmente apagados até o outono passado simplesmente devido à falta de recursos, disse ele.

Até o final do ano, as autoridades registraram um total de mais de 2.200 incêndios florestais na província.

Outra razão, disse o professor Flannigan, é a seca extrema que a província tem enfrentado nos últimos dois anos.

Em fevereiro, a maior parte da regiãoo estava sob níveis de seca médios a extremos, de acordo com o mapa de secas.

Assim como os "incêndios zumbis", a seca também tem sido perceptível, diz Leverkus.

Quando estava na floresta no verão passado, ela disse ter notado que um riacho que costumava fluir livremente agora é “apenas poças”.

Estas condições de seca persistiram durante o inverno. A província viu tão pouca neve que uma estação de esqui na região de South Cariboo foi forçada a fechar suas portas no início de janeiro para o resto da temporada.

 

Consequências das mudanças climáticas

Os "incêndios zumbis" já foram raros, mas os cientistas dizem que se tornaram mais comuns nos últimos anos devido ao aquecimento global.

Por enquanto, os "incêndios zumbis" estão sendo apenas monitorados por autoridades, diz Forrest Tower, porta-voz sobre o assunto das autoridades da província.

Ele disse que muitos deles não podem ser apagados manualmente porque a maior parte da força de combate a incêndios da província está de folga durante o período de entressafra. Eles ainda não representam um risco, disse ele.

Mas a principal preocupação é que os incêndios possam reacender se a região continuar a ter muito pouca neve ou chuva na primavera.

Se isso acontecer, ele disse que a equipe sazonal de incêndios florestais da província poderá entrar imediatamente em ação em março ou abril.

Flannigan diz que é muito cedo para prever exatamente como será a próxima temporada de incêndios, mas o que a província viu até agora “é bastante incomum”.

E sendo um ano de El Niño, que indica condições quentes e secas para o oeste do Canadá, Flannigan diz que tudo aponta para "uma primavera muito ativa”.

Tuesday, February 13, 2024

Do Branco ao Verde: a vegetação da Antártica está aumentando

 



Um estudo revela que a vegetação na Antártida está aumentando e é uma consequência do aquecimento global. Os cientistas falam de um "ponto de viragem" nos ecossistemas e apelam a uma ação climática urgente.

Novas investigações acrescentam provas a um cenário já de si assustador: as alterações climáticas antropogénicas são responsáveis pelos inúmeros impactos, acontecimentos extremos e transformações aceleradas que estão ocorrendo na Terra.

Um estudo da Universidade de Insubria, em Itália, traz novas revelações. Desta vez, sobre o Continente Branco. Segundo a pesquisa, a Antártida tem cada vez mais vegetação, e a causa é, claro, o aumento global das temperaturas.

O estudo examinou a área coberta pelas duas únicas plantas nativas da região - a erva-pilosa-antártica (deschampsia antarctica) e a pêra-da-antártica (colobanthus quitensis) - entre 2009 e 2019, comparando-a com os registos desta vegetação efetuados nos 50 anos anteriores. Além disso, analisaram a evolução das temperaturas e de outros fatores do ecossistema.

A análise revelou que as populações de ambas as plantas dispararam nos últimos 10 anos, e que o aumento registado neste período foi equivalente ao dos 50 anos anteriores.


Os animais pisam a vegetação e inibem a sua proliferação.

Ambas as espécies registam um aumento significativo da densidade, em especial na ilha de Signy, uma pequena ilha ao largo das Órcadas do Sul, que é, também um importante local de nidificação para várias espécies de aves marinhas.

A taxa de crescimento das plantas, dizem eles, está correlacionada com o aumento constante das temperaturas que têm sido registadas na Antártida desde 2012. Mas outro fator ligado ao impacto no ecossistema também desempenha um papel importante no avanço do verde.

Menos animais, mais verde

De acordo com a análise, um fator que favorece a proliferação do verde é a diminuição do número de focas e leões-marinhos que nidificam na ilha e que, historicamente, limitavam o crescimento das plantas, pisando-as.

Presumimos que a surpreendente expansão das plantas se deve principalmente ao aquecimento do ar no verão e à libertação da limitação da perturbação pelos leões-marinhos, diz o estudo.

O aumento da vida vegetal na ilha Signy pode ser um precursor de transformações mais amplas na Antártica. Os autores do estudo alertam para o facto de podermos estar perante um "ponto de viragem", uma mudança radical no ecossistema antártico.


A erva-pilosa-antártica e a pêra-da-antártica são duas espécies nativas da região.

Os peritos afirmam que esta tendência irá intensificar-se. De acordo com alguns cenários, as temperaturas poderão aumentar entre 5°C e 6°C até ao final deste século, provocando mudanças devastadoras no continente.

"O que foi observado naquela ilha antártica pode ser um prelúdio do que acabará por acontecer em grande parte deste continente nos próximos anos, devido ao aquecimento global", afirmou Peter Convey, autor do estudo.

"Prevê-se que a forte tendência de aquecimento seja retomada com a expansão das zonas sem gelo e com a continuação dos impactos nas componentes abióticas e bióticas dos ecossistemas terrestres, incluindo o afluxo de espécies não nativas", afirma o documento.

Esta rápida mudança na vegetação antártica recorda-nos a urgência de enfrentar a crise climática e destaca a vulnerabilidade de um dos ecossistemas mais remotos da Terra face às ações humanas.

"Esta é a primeira evidência na Antártica de respostas aceleradas dos ecossistemas ao aquecimento climático, confirmando observações semelhantes no Hemisfério Norte. As nossas descobertas apoiam a hipótese de que o aquecimento futuro irá desencadear mudanças significativas nestes frágeis ecossistemas antárticos", diz o estudo.

Saturday, December 30, 2023

Martianization - A história da estação de esqui mais alta do mundo, que parou de funcionar por causa do aquecimento global - Amazon deforestation

A estação de Chacaltaya, Bolívia, já foi um lugar lotado de turistas. Hoje, virou praticamente uma 'montanha-fantasma' que só atrai alguns curiosos.



Por BBC


Chacaltaya era considerada a estação de esqui mais alta do mundo desde 1939 — Foto: Getty Images/Via BBC


Considerada a estação de esqui mais alta do mundo desde 1939, Chacaltaya, na Bolívia, fica a uma altitude de 5421 metros – acima até do campo base do Everest.

No passado, ela era um grande atrativo para estrangeiros e bolivianos que queriam aproveitar as férias.

No entanto, as visitas ao local foram deixadas de lado depois que o lugar foi desativado por causa de mudanças climáticas, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

A geleira que fazia parte da área onde fica a estação de esqui foi recuando, até chegar ao ponto de não ter mais neve suficiente para a prática do esporte.

O fenômeno não deveria ocorrer e é considerado preocupante, segundo Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).

"Em função do aquecimento global, nós temos um aumento das temperaturas próximas aos polos do planeta e nas altas montanhas. É bem emblemático, já que, nessa altitude, a neve tende a ser permanente", diz Côrtes.

Mas o derretimento do glaciar já tinha sido previsto por cientistas que estudam as consequências do aumento das temperaturas naquela região há alguns anos.

O que eles não imaginavam é que seria muito antes do que eles previam.
Os pesquisadores acreditavam que a neve desapareceria por completo no ano de 2015, mas o evento ocorreu seis anos antes, em 2009.

Hoje, o local está praticamente abandonado e só atrai quem deseja saber um pouco sobre a sua história ou é adepto de caminhadas mais intensas.



A montanha Chacaltaya vista de Huayna Potosi, Bolívia — Foto: Getty Images/Via BBC


Ele conta que, na alta temporada, os passeios para o local ocorriam sempre e com pelo menos cem pessoas diariamente.

Por ser uma estação de esqui de dificuldade média para alta e que não é recomendada para iniciantes, era mais comum ver turistas estrangeiros ali, a maioria de origem francesa, alemã e americana.

"Quem é da Europa já sabe esquiar. Os bolivianos iam mais para fazer boneco de neve e brincar", afirma o guia.

Os brasileiros, segundo ele, não visitam muito a região nesta época.

O preço, segundo Conde, também era vantajoso para quem não era da América do Sul.

"Sair com uma agência custava US$ 20. Já o passeio privado saía US$ 50 e, com mais horas, US$ 100. Não era caro", lembra.

Ao chegar lá, os visitantes podiam escolher esquiar por algumas horas ou até se hospedar em um resort que ficava no topo da montanha.

Até 30 pessoas podiam dormir no local e, segundo o guia, o hotel sempre tinha pelo menos 50% de sua capacidade ocupada.

Também era possível comer em uma lanchonete que vendia alguns alimentos e desfrutar da vista.

"Tinha serviço de chá de coca, chocolate quente, sanduíches e cervejas", conta.

Por muitos anos, o turismo foi forte na região, até que, com a chegada dos anos 2000, tudo foi mudando.

"(O glaciar) diminuiu drasticamente. As pessoas se sentiam enganadas. Subiam e só viam uma montanha", diz o guia.

Para se ter uma ideia das alterações sofridas na montanha, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), um órgão das Nações Unidas, divulgou fotos que mostram a quantidade de neve que sumiu nos últimos 60 anos, entre 1940 e 2005.

Em 1940, a área com neve e para esquiar era de 0,22 km². Em 1982, 0,14 km ². Em 1996, 0,08 km². E, em 2005, só 0,01 km².

Por causa dessas alterações climáticas, o glaciar desapareceu por completo em 2009. Após um ano, a estação foi desativada



Por causa dessas alterações climáticas, o glaciar desapareceu por completo em 2009 — Foto: BBC


Montanha-fantasma

Atualmente, muitas agências da cidade de La Paz ainda oferecem visitas a Chacaltaya. Mas, agora, é impossível esquiar.

Ao procurar estabelecimentos que fazem esse tipo de excursão, é bem comum ouvir dos atendentes que os brasileiros só procuram pelo passeio para tentar ver um pouco da neve que sobrou.

Mas, para isso, é preciso ter sorte e não ir em época de seca.

Para chegar até a estação de esqui, o turista percorre um trajeto de quase uma hora e meia em uma van, passando por uma estrada de terra com muitas curvas.

O veículo estaciona próximo ao local, e ainda é preciso subir por uns 40 minutos a pé até chegar no topo.

A montanha virou quase uma cidade-fantasma, atraindo apenas os turistas mais curiosos que desejam reviver a história da estação de esqui mais alta do mundo.

É possível ver alguns cabos dos antigos teleféricos que existiam ali e também a lanchonete, que virou um espaço abandonado.

Segundo o guia boliviano, antes de a estação ser desativada, era muito comum a montanha receber aproximadamente 23 mil turistas por ano. Hoje, são cerca de 2 mil.

Conde afirma ainda que o impacto no turismo foi sentido pelos guias e profissionais da região.

"Para nós era triste, porque era característico de La Paz. Já que era perto, muita gente vinha e gostava", relembra, saudoso.

Na opinião dele, esse era o atrativo mais importante da cidade.

Para amenizar as perdas no setor, as agências atualmente vendem pacotes também para Charquini, que tem neve e ainda conta com uma lagoa esmeralda.



Hoje, o local está praticamente abandonado e só atrai quem deseja saber um pouco sobre a história ou é adepto a caminhadas mais intensas — Foto: Fredy Ticona Conde/Via BBC


Degelo pode ser irreversível

O aquecimento global impacta diretamente no derretimento das geleiras ao redor do mundo.

Um estudo feito pelo Instituto Boliviano de Montanha em conjunto com o Instituto de Geografia, da Universidade de Neuchâtel, na Suíça, mostrou que, nos Andes bolivianos, mais de 50% da área glaciar foi perdida nos últimos 40 anos devido às mudanças climáticas.

A formação de gelo ocorre nos polos norte e sul - que estão sob influência do Ártico e da Antártida, respectivamente - e também nas montanhas.
Nas montanhas, ocorre um acúmulo natural de neve com a altitude, que favorece climas mais frios.

Segundo Luiz Henrique Rosa, professor do departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o aumento significativo de temperatura nessas regiões faz com que locais em que era muito comum ter neve o ano todo apresentem pouca ou quase nenhuma quantidade, como em Chacaltaya.

O gelo glacial vem da precipitação da neve, que vai se compactando ao longo dos milhares de anos. Ao derreter de forma rápida, perde-se o gelo glacial.

Dessa forma, devido às temperaturas se manterem sempre acima da média, ocorre com frequência o derretimento dessas geleiras, impossibilitando novos glaciares.

"Tem muita neve que é sazonal. Como as temperaturas estão cada vez mais altas, essa neve sazonal não dura e não ocorre o processo de formação de gelo", diz Rosa.

O especialista explica ainda que o derretimento nos polos é irreversível, fenômeno que também já vem sendo observado nas montanhas.
Isso afeta estações de esqui, que são projetadas com base no acúmulo de neve que se forma sobre as rochas ou também por cima de geleiras, que são os chamados de glaciares.

No caso de Chacaltaya, ela se formou em cima de um glaciar.
Para esquiar, o ideal é pelo menos dez centímetros de neve, quando não há muitos fragmentos ou fendas nas rochas.

Mas, se o terreno é muito rochoso e bastante irregular, é necessário pelo menos 30 centímetros de neve para praticar o esporte.

Sem uma quantidade expressiva, esquiar se torna impraticável.
"O degelo nas montanhas situadas em latitudes menores tende a ser maior exatamente porque elas estão mais próximas do Equador, onde as temperaturas são mais elevadas do que os polos", explica Côrtes, da USP.

"Mas, em condições normais, isso não ocorreria, não a ponto de provocar esse degelo, da maneira que ocorreu nessa montanha especificamente."



A estação Chacaltaya está quase abandonada hoje — Foto: Fredy Ticona Conde/Via BBC

Consequências graves

Além do impacto direto nas estações de esqui e no turismo, o degelo nas montanhas influencia diretamente no abastecimento de água para a população, porque a água produzida pelo derretimento vai para muitas regiões.

"O gelo alimenta todas as comunidades que vivem na planície e nas encostas dos andes", diz Maria Elisa Siqueira, doutora em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Mas, com essa falta, a agricultura vai diminuindo e gera um impacto social e econômico muito grande."

Em uma situação normal, é possível ter um acúmulo maior de neve durante o inverno, e os cursos d’água são abastecidos na primavera e verão.

Porém, quando não ocorre a produção de neve, não há uma quantidade expressiva para o abastecimento de rios, impactando regiões que dependem desse processo.

No caso de Chacaltaya, a cidade de La Paz era beneficiada com o degelo.

"A longo prazo, cidades vão ser extintas. Têm algumas cidades andinas que já estão sofrendo com isso", destaca Rosa, das UFMG.

O problema não é percebido só na Bolívia. Países como Chile e Argentina também já sofrem com os impactos.

"A região de Santiago, no Chile, passou por um período com escassez de água no ano passado por falta de neve nesta região", ressalta Côrtes.

"Como não acumulava neve suficiente no inverno, no verão, reduzia muito o suprimento de água."

O degelo nesses locais também contribui para a proliferação de novos microorganismos que emitem gases nocivos ao planeta.


"Depois desse descongelamento, eles podem surgir e liberar metano, aumentando ainda mais o efeito estufa", afirma Rosa.



Para recuperar o gelo em regiões afetadas pelo aquecimento global e ainda tentar frear o aumento das temperaturas será preciso um trabalho de anos — Foto: Priscila Carvalho e Gabriela Coelho/Via BBC


Há solução?

Para recuperar o gelo em regiões afetadas pelo aquecimento global e ainda tentar frear o aumento das temperaturas, será preciso um trabalho de anos.

As previsões de institutos e especialistas que estudam essas alterações no planeta não são as mais otimistas.

"O gelo nas montanhas só vai voltar se a temperatura média global baixar", diz Siqueira, que também é professora do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.


"Isso é a longo prazo, mas nos próximos anos só vejo aquecimento. O estrago já está feito."

Segundo o sexto relatório de avaliação do IPCC, a última década foi a mais quente do que qualquer período nos últimos 125 mil anos.

O trabalho mostrou ainda que os países em desenvolvimento sofrerão mais, já que pessoas em áreas vulneráveis têm até 15 vezes mais probabilidade de morrer em inundações, secas, tempestades em comparação com aquelas que não vivem em regiões de risco.

Para melhorar esse prognóstico, é necessário ainda que diversas nações se comprometam com mudanças no campo energético, buscando fontes renováveis.

"Os países que poluem mais não querem diminuir porque impacta a economia. O ideal seria investir em fontes limpas de energia, isso é o que irá salvar", diz Rosa.

"Só temos a Terra. Se não cuidarmos dela, não tem plano B."
Mas ainda não são todos os países que estão tratando a questão com a urgência necessária, dizem os especialistas.

"Pelo que verifiquei na última COP [cúpula do clima das Nações Unidas], parece que os países estão mais preocupados com a segurança energética do que lidar com as mudanças climáticas", diz Côrtes.

"Eles não estão dando a devida atenção a essa situação. Só tende a se agravar nas próximas décadas."



Massachusetts town grapples with sea rise after sand barrier fails - TheGardian

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