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Friday, December 13, 2024

Brazil - Seca recorde impõe estado de escassez hídrica inédito no Brasil, com 5 bacias em pior nível

 

Trecho seco do rio Madeira, próximo ao município de Humaitá (AM), onde o transporte de suprimentos e combustível foi afetado pela seca severa, pelo segundo ano consecutivo - Lalo de Almeida - 12.set.2024/Folhapress 

 



Áreas dos rios Xingu, Tapajós, Purus, Madeira e Paraguai enfrentaram, em 2024, cenário nunca antes registrado, comprometendo 26% do território nacional 

 

 André Borges

 

As mudanças climáticas resultaram em um cenário trágico e recorde para os rios brasileiros em 2024. Pela primeira vez na história, em mais de um século de medições de volume, cinco grandes bacias hidrográficas do país tiveram decretado, oficialmente, "estado de escassez hídrica", pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).

Foi o que se viu nas bacias dos rios Madeira, Purus, Tapajós e Xingu, todos afluentes do rio Amazonas, e no rio Paraguai, que banha o pantanal.

Com exceção do rio Madeira, que já tinha sido alvo dessa situação extrema de seca, todos os demais motivaram decretos de escassez pela primeira vez nas medições, iniciadas há mais de cem anos.

 


 

As informações obtidas pela Folha, por meio de dados oficiais da ANA, apontam que, somadas as áreas das cinco bacias afetadas, chega-se a um território total impactado de 2,264 milhões de km².

Isso significa que, em 2024, ano em que o Rio Grande do Sul foi vítima das piores cheias da sua história, 26% do território nacional também sofreu com as consequências da seca extrema, impactando abastecimento humano, produção agrícola, logística e geração de energia.

A declaração de escassez hídrica não é uma mera formalidade. Esse instrumento utilizado pela ANA, na prática, serve de gatilho para que uma série de políticas públicas emergenciais possam ser tomadas para evitar a pane total no sistema hídrico.

É o ato que alerta sobre a necessidade de medidas preventivas do Corpo de Bombeiros, por exemplo, para evitar queimadas em áreas de seca extrema; para que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) altere o nível de um reservatório de hidrelétrica; ou para que Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) acelere a dragagem (retirada de sedimentos) de um determinado trecho de rio para garantir a passagem de embarcações.



Veronica Sánchez, diretora-presidente da ANA, afirma que, neste ano, os decretos de escassez balizaram medidas preventivas na bacia do rio Paraguai, na região do pantanal, sinalizando que medidas de combate a incêndios tinham de ser antecipadas, devido à seca severa em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Na amazônia, onde a situação nunca havia chegado ao extremo atual, alertas também foram enviados para recomendar medidas na região do Madeira e Solimões, onde trechos chegaram a ficar intrafegáveis.

 

"Tivemos a pior seca na região Norte em mais de cem anos da série histórica. Com exceção do rio Madeira, foi a primeira vez que fizemos a declaração de escassez nos demais rios. Observamos o comportamento cíclico dos rios e nunca encaramos nada parecido com o ocorreu agora", diz Sánchez.

Limitações no monitoramento

O governo federal tem adotado uma postura dúbia quando o assunto é o monitoramento da situação hídrica do país. Se, por um lado, reconhece o cenário crítico e procura tomar medidas para reduzir seus impactos, por outro, corta orçamentos que estrangulam a capacidade de fiscalização.

 

A ANA possui 23 mil estações de monitoramento hidrológico espalhadas pelos rios do país. Essa rede hidrometeorológica é o que irriga o "cérebro nacional", para fiscalizar vazões e cheias e apoiar decisões. Acontece que a agência está sem nenhum estoque desses equipamentos, por falta de recursos. Hoje, se alguma estação quebrar, não há como repor.

Em maio, quando o Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, viu cidades inteiras serem engolidas pela lama, até chegar ao Guaíba, em Porto Alegre, todas as 17 estações da região foram destruídas. A ANA tinha oito equipamentos em estoque e os enviou para a região. Os demais foram recuperados até este mês.

Neste momento, porém, não há uma estação sequer disponível. Cada equipamento custa cerca de R$ 800 mil.

Pantanal
 

"Nosso orçamento total neste ano foi de R$ 227 milhões. O monitoramento fica com praticamente metade disso. São R$ 108 milhões por ano para manter as 23 mil estações. A questão é que sofremos um corte de R$ 43 milhões no começo do ano, e isso não foi reposto. Ficamos sem condições, o estoque é zero", diz Sánchez.

A agência teve que cortar ações para manter o pagamento da folha. Na terceirização administrativa, quem sai não é recomposto. Hoje há um déficit de 101 pessoas no quadro. São 262 profissionais para monitorar todos os rios do Brasil, menos do que a agência tinha em 2001, quando foi criada, com 350 pessoas.

Tendência é de piora

O secretário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), André Lima, diz acreditar que as mudanças climáticas chegaram para ficar e que as secas e enchentes serão cada vez mais frequentes e intensas.

"Não se adapta toda a gestão pública para este novo normal em um ano. Em situação de restrição fiscal, não é possível aumentar significativamente os orçamentos ordinários de todos os órgãos federais sem uma previsão clara e prévia", afirma à Folha.

Praias de areia formadas no rio Tapajós, próximo a Santarém (PA), por causa da seca severa que atinge a região 

Em sua avaliação, o cenário climático passa a exigir um novo tipo de tratamento do assunto pelo poder público. "Os sistemas mais assertivos permitem previsões meteorológicas com antecedência máxima de três meses. Será preciso, inclusive, adaptar e dar mais agilidade aos procedimentos e mecanismos, para termos disponibilidade orçamentária extraordinária."

Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, lembra que o Brasil sempre teve condição privilegiada em relação a outros países quando o tema é disponibilidade hídrica, sendo dono de 12% da água doce superficial do planeta, mas que o país não tem feito a atualização desse cenário com os quadros de escassez hídrica que afetam grandes bacias.

 

"Crise climática e crise hídrica estão associadas, especialmente em situações que se combinam com a intensificação da degradação ambiental nos territórios. Isso impõe maior atenção para o gerenciamento dos recursos hídricos e aplicação completa e correta da Lei dos Recursos Hídricos", avalia a especialista.

"Não se pode privilegiar descaradamente um setor, como se faz com as grandes captações para irrigação. O olhar tem de ser para os usos múltiplos e, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais."


 

Para Carlos Bocuhy, presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), a ampliação da crise vai gerar, no futuro, mais disputas entre regiões por recursos hídricos, como ocorreu anos atrás com o sistema Cantareira, entre São Paulo e Campinas.

"Sistemas de reúso e saneamento andam a passos lentos, enquanto a crise climática aumenta continuamente a escassez. A conta não fecha. É preciso combater a mudança do clima e implementar governança hídrica para a sustentabilidade", diz.

Márcio Santilli, sócio fundador do ISA (Instituto Socioambiental), redobra o alerta. "O Brasil é, ou era, o país com maior disponibilidade de água doce. Com seguidas estiagens agudas, ingressamos num ciclo de escassez que afeta não só populações tradicionais, mas também ameaça a agricultura, a geração de energia e o abastecimento das cidades. Ou nos unimos para reverter esse quadro, ou vamos nos queimar."


 

 

Saturday, November 2, 2024

O que antes era floresta e água agora parece deserto: fotos mostram efeito da seca recorde na Amazônia; veja - Brazil


 

Seca recorde forma ‘desertos’ na Amazônia e ameaça criar onda de refugiados climáticos

Barcos e casas flutuantes encalham no leito dos rios; estiagem tira renda de quem vive da pesca e da agricultura 

 


Brazil


Amazon Rainforest

 

Por Juliana Domingos de Lima e Musuk Nolte (Fotos)
 
 Manacapuru, na região metropolitana de Manaus, é um lugar antigo. Com 100 mil habitantes, já foi vila no fim do século 18 e terra do povo indígena Mura muito antes disso.

Nesse tempo todo, o curso d’água foi a via para o sustento, as tradições e a mobilidade dos moradores da cidade conhecida como “princesinha” do Rio Solimões.

Em 2024, porém, essa estrada fluvial foi bloqueada pela maior seca já registrada no afluente do Amazonas.

O que antes era floresta e água, agora parece deserto. 

Em 12 de outubro, o trecho do Solimões em Manacapuru atingiu 2 metros, segundo a Defesa Civil do Amazonas. É o menor nível desde o início dos registros, há 120 anos.
 
 
 
Em alguns locais do Solimões, no leito do rio totalmente exposto há enormes bancos de areia.

 

Só no Amazonas, são mais de 800 mil pessoas afetadas. Não apenas a Bacia do Solimões, mas todos os 62 municípios do Estado estão em emergência.

Pelo segundo ano seguido, a seca extrema encalha barcos e casas flutuantes, agora escoradas só em troncos, na lama e na areia, o que isola comunidades e obriga moradores a percorrerem longos trechos a pé.

A falta de chuva também está por trás da explosão de incêndios no bioma, que fazem explodir a degradação florestal e espalham a fumaça pelo País. 

 

 
Bloco de concreto jaz em banco de areia em área que deveria estar coberta pelo Rio Negro no bairro de Tarumã, em Manaus • Musuk Nolte/Bertha Foundation
 
 

Henrique Freitas, de 21 anos, mora com a mãe e os irmãos em Manacapuru, e vive da pesca. Com a seca no Solimões, caminha sob sol forte mais de meia hora todo dia para chegar ao rio, que antes estava na porta de casa e recuou dois quilômetros. “Era só descer e entrar na canoa”, disse ao Estadão.

“Às vezes a gente pensa em ir pra cidade, mas tinha de ter ao menos um trabalho fixo”

Henrique Freitas - Pescador


 A seca também atrapalha a agricultura, que completa a (pouca) renda da família Freitas. O principal produto é a banana, mas metade da plantação morreu por falta de chuva.
Fotos: Musuk Nolte/Bertha Foundation

 

Para vender o que restou, eles transportam no ombro cargas de 25 a 40 quilos, por quilômetros, até chegar ao rio. Antes, bastava colocar diretamente no barco.


 

Como o Solimões está na cabeceira da Bacia Amazônica, o impacto se estende para várias regiões da floresta.
 
 
Restos de barco que sofreu acidente em 2023 devido à baixa vazão do Rio Negro, em Iranduba


“Até pegar água pra tomar banho e beber está difícil”, relata outro pescador de Manacapuru, Josué Oliveira, de 51 anos.

A renda caiu praticamente a zero e ele tem andado “mais a pé que de canoa” pelo curso do rio. “Os peixes somem.”

Quando o rio subir, o barco de Oliveira precisará de reforma - ele estima ao menos R$ 6 mil. Por ora, encalhada na terra, a embarcação se deteriora pelo calor.

O governo estadual diz que já distribuiu 3 mil toneladas de alimentos no interior, além de 41 purificadores e 2,4 mil caixas d'água. Já o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional informa repasses de R$ 48,5 milhões ao Amazonas neste ano. 

 

Janderson, filho de Josué, também vive da pesca e da agricultura, inviabilizadas pela seca • Musuk Nolte/Bertha Foundation


 

Eventos extremos desse tipo serão cada vez mais frequentes. Estudo da World Weather Attribution, que reúne pesquisadores do mundo todo, mostrou que a crise climática torna 30 vezes mais prováveis secas como a do ano passado na Amazônia. Em 2024, a estiagem já se repetiu.

A Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-29) será realizada este mês no Azerbaijão para discutir saídas. Os esforços e metas até agora são insuficientes para livrar o planeta do colapso. 

 

Cristiane Cardoso em sua casa flutuante em Iranduba (AM), danificada pela seca • Musuk Nolte/Bertha Foundation

Em Iranduba, cidade na margem esquerda do Solimões, Cristiane Cardoso, de 42 anos, era garçonete de um barco-restaurante, mas perdeu o emprego por causa da seca. E, sem a sustentação da água, a casa flutuante onde vive com os três filhos se partiu. Ela cogita se mudar, o que a tornaria uma refugiada climática.

Bacia amazônicaEm seca recorde pelo segundo ano consecutivo, trechos de afluentes do Rio Amazonas chegam a menor nível em mais de um século

 


 

Segundo relatório da Organização Internacional de Migrações das Nações Unidas, o Brasil registrou 745 mil deslocamentos internos em 2023 por desastres naturais. Para ter segurança de vida nova, porém, os moradores do interior do Amazonas terão de ir mais longe do que a capital.

Em Manaus, o Solimões encontra o Rio Negro e forma o Amazonas, maior curso d’água do mundo em vazão e extensão. Mas em 2024 o Negro também atingiu a menor marca desde o início do século passado.

Chico Carnaúba, pescador de 49 anos, conta que também faltam água potável e peixes em Puraquequara, um dos lagos que secaram perto da capital. O jaraqui, o pacu e o tucunaré, os que mais costuma pegar, desapareceram. “Estamos esquecidos.” 

 

Canais secam e casas encalham em São Francisco do Mainã, deixando comunidade isolada • Musuk Nolte/Bertha Foundation

 


 

Monday, October 7, 2024

Climate warning as world’s rivers dry up at fastest rate for 30 years

 

A tugboat navigates around sandbars amid low water levels on the Mississippi River. Water levels on the river hit a record low in 2023. Photograph: Gerald Herbert/AP

 

Rivers dried up at the highest rate in three decades in 2023, putting global water supply at risk, data has shown.

Over the past five years, there have been lower-than-average river levels across the globe and reservoirs have also been low, according to the World Meteorological Organization’s (WMO) State of Global Water Resources report.

In 2023, more than 50% of global river catchment areas showed abnormal conditions, with most being in deficit. This was similar in 2022 and 2021. Areas facing severe drought and low river discharge conditions included large territories of North, Central and South America; for instance, the Amazon and Mississippi rivers had record low water levels. On the other side of the globe, in Asia and Oceania, the large Ganges, Brahmaputra and Mekong river basins experienced lower-than-normal conditions almost over the entire basin territories.

Rio Negro Amazon Brazil

 

Amazon Brazil


 Climate breakdown appears to be changing where water goes, and helping to cause extreme floods and droughts. 2023 was the hottest year on record, with rivers running low and countries facing droughts, but it also brought devastating floods across the globe.

The extremes were also influenced, according to the WMO, by the transition from La Niña to El Niño in mid-2023. These are naturally occurring weather patterns; El Niño refers to the above-average sea-surface temperatures that periodically develop across the east-central equatorial Pacific, while La Niña refers to the periodic cooling in those areas. However, scientists say climate breakdown is exacerbating the impacts of these weather phenomena and making them more difficult to predict.

 

 

Areas that faced flooding included the east coast of Africa, the North Island of New Zealand, and the Philippines.

In the UK, Ireland, Finland and Sweden, there was above-normal discharge, which is the volume of water flowing through a river at a given point in time.

“Water is the canary in the coalmine of climate change,” said the WMO secretary general, Celeste Saulo. “We receive distress signals in the form of increasingly extreme rainfall, floods and droughts which wreak a heavy toll on lives, ecosystems and economies. Melting ice and glaciers threaten long-term water security for many millions of people. And yet we are not taking the necessary urgent action.

“As a result of rising temperatures, the hydrological cycle has accelerated. It has also become more erratic and unpredictable, and we are facing growing problems of either too much or too little water. A warmer atmosphere holds more moisture which is conducive to heavy rainfall. More rapid evaporation and drying of soils worsen drought conditions,” she added.

 

These extreme water conditions put supply at risk. Currently, 3.6 billion people face inadequate access to water for at least one month a year, and this is expected to increase to more than 5 billion by 2050, according to UN Water.

Glaciers also fared badly last year, losing more than 600 gigatonnes of water, the highest figure in 50 years of observations, according to the WMO’s preliminary data for September 2022 to August 2023. Mountains in western North America and the European Alps faced extreme melting. Switzerland’s Alps lost about 10% of their remaining volume over the past two years.

“Far too little is known about the true state of the world’s freshwater resources. We cannot manage what we do not measure. This report seeks to contribute to improved monitoring, data-sharing, cross-border collaboration and assessments,” said Saulo. “This is urgently needed.”


 2023 foi o ano mais seco para os rios do planeta em três décadas. 

 

Summer 2025 was hottest on record in UK, says Met Office. Unprecedented average temperature made about 70 times more likely by human-induced climate change, says agency

The water levels at Broomhead reservoir in South Yorkshire have been low this summer. Photograph: Richard McCarthy/PA by   Damien Gayle The...