Thursday, April 25, 2024

Doenças tropicais negligenciadas, um problema global - 4. Qual é o papel das mudanças climáticas no alastramento das doenças tropicais? dw.com

 

Muitas doenças tropicais, como a malária, são transmitidas por insetos

Doenças tropicais negligenciadas, um problema global

Anke Rasper
30 de janeiro de 2023

DTNs afetam quase 2 bilhões de seres humanos em todo o mundo, com graves consequências, também econômicas e sociais, e estão se alastrando para novas regiões.

As doenças tropicais negligenciadas (DTN) afetam cerca de 1,7 bilhão de habitantes de 149 países. "Essas doenças são 'negligenciadas' porque estão quase totalmente ausentes dos planos globais de saúde", lembrou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, neste 30 de janeiro, Dia Mundial das DTN.

1. O que são Doenças Tropicais Negligenciadas?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza atualmente 20 enfermidades como Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN). A transmissão se dá de forma muito simples, seja uma picada de inseto, sejam pequenos parasitas que penetram na pele durante o banho num lago. Sem tratamento, suas consequências podem restringir a vida de forma permanente, e levar à incapacidade física e até a morte.

No caso da infecção por tracoma, que ocorre em muitas regiões do mundo, há risco de cegueira; a filariose linfática (elefantíase) causa inchaço permanente dos membros. Outros patógenos atacam órgãos internos como rins ou fígado, ou destroem células nervosas e causam grandes danos ao coração, como no caso da doença de Chagas, muito comum na América do Sul. Milhões de seres humanos, principalmente em países tropicais, se infectam com DTNs a cada ano.


Cinco patógenos (denominados "the big five") desencadeiam cerca de 90% de todas as DTN: filariose linfática (elefantíase), cegueira dos rios (oncocercose), tracoma, bilharziose (esquistossomose) e infestação por geo-helmintos.

As camadas mais pobres da população na África, Ásia e América Latina são particularmente atingidas. Apesar de ser amplamente difundido, o atendimento médico para DTNs ainda é frequentemente negligenciado. Isso traz não só séria redução da qualidade de vida do paciente, como também consequências econômicas.

2. Quem é afetado pelas DTNs no mundo?

As DTNs afetam 1,7 bilhão de habitantes de 149 países; outros 2 bilhões estão ameaçados por elas, de acordo com a Rede Alemã contra as Doenças Tropicais Negligenciadas. Estima-se que as vítimas diretas ou indiretas das DTNs a cada ano cheguem a 500 mil.

As DTNs são encontrados em todas as regiões tropicais do planeta, do Sudeste Asiático ao Oriente Médio, África e América do Sul. "Os países africanos são os mais atingidos", explicou Jürgen May à DW. Ele dirige o Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical, em Hamburgo, onde são pesquisadas infecções globais.

Indivíduos de baixa renda correm risco especialmente alto, sobretudo em áreas rurais ou de difícil acesso a atendimento médico, onde muitas vezes também há dificuldade de obter água potável e alimentos.

"Em muitos países há um círculo vicioso de doenças e pobreza. As próprias doenças levam a mais pobreza. E os problemas de higiene que andam de mãos dadas com a pobreza, também", diz May.

Quem está permanentemente doente muitas vezes não consegue mais trabalhar e cuidar de sua famílias. E as deficiências causadas pelas DTNs podem levar a ainda mais estigma e exclusão.

As doenças costumam ser piores para as mulheres e crianças. Muitas crianças ficam incapacitadas para frequentar a escola ou têm deficiências de desenvolvimento, e atualmente não há medicamentos infantis apropriados para muitas DTNs.

3. Por que elas são "negligenciadas"?

Embora bilhões em todo o mundo estejam ameaçados pelas DTNs, a luta contra elas ainda é subfinanciada e não está suficientemente no foco dos sistemas de saúde, alertam organizações de ajuda como a ONG CBM, quese empenha em todo o mundo pelos portadores de deficiências.

O termo "doenças negligenciadas" também mostra "como é difícil chamar a atenção para as DTNs, bem como para os grupos populacionais negligenciados que mais sofrem com elas", explica o infectologista May. Moradores tanto de zonas rurais quanto de favelas urbanas não costumam ser priorizados pelos tomadores de decisão política, e "muitos não estão cientes de que essas doenças são graves e crônicas".

A pandemia de covid-19 provocou grandes retrocessos na luta contra as doenças tropicais negligenciadas em diversos países africanos, pois milhões de doses de remédios não puderam mais ser distribuídas aos pacientes.

"Nos últimos dois ou três anos, ficamos atrasados 15 anos", calcula May. Em muitos países tropicais, as consequências das infecções por covid-19 não foram tão graves quanto as das DTNs.

4. Qual é o papel das mudanças climáticas no alastramento das doenças tropicais?

As DTNs são mais comuns em regiões tropicais, mas, devido às mudanças climáticas e às viagens globais, os casos também estão aumentando na Europa e na América do Norte.

A dengue, transmitida por mosquitos, não ocorre apenas na África, no Sudeste Asiático e na América do Sul, mas também já atingiu a região do Mediterrâneo e o sul da Europa, lembra May.

Também nos países africanos, onde a doença costumava atingir principalmente a população rural, outras áreas estão agora em risco. O aumento das temperaturas também afeta os insetos que transmitem patógenos.

"Os mosquitos agora são encontrados em regiões cada vez mais altas, a até 1.500 ou 1.800 metros, e também em grandes cidades africanas onde não eram viviam antes, como Nairóbi, Adis Abeba ou Antananarivo, em Madagascar."


Parasitas da leishmaniose infectam humanos, mas também animais como os cães, e podem ser fatais

Os casos de doenças tropicais também estão aumentando na América do Norte e na Europa Central. O vírus do Nilo Ocidental – o qual, estritamente falando, não é uma DTN, mas transmitido de forma semelhante à chikungunya ou a dengue – também é encontrado regularmente na Alemanha desde 2018, explica May. E a partir de "um único mosquito que foi trazido para Nova York em 1999, o vírus do Nilo Ocidental agora se espalhou por todos os Estados Unidos".

O flebotomíneo, que transmite a leishmaniose, vive há muito tempo em regiões turísticas e ilhas de férias no Mediterrâneo. O que inicialmente parece uma erupção cutânea, mas pode ser fatal, é difícil de ser identificado pelos clínicos gerais europeus.

De acordo com May, as DTNs não recebem qualquer atenção na formação médica. Porém cada vez mais institutos de medicina tropical, como o Bernhard Nocht, de Hamburgo, oferecem cursos de treinamento avançado para médicos.

5. Qual é o próximo passo na luta contra as DTNs?

Até 2030, a Organização Mundial da Saúde deseja conter em grande escala as doenças tropicais negligenciadas, em todo o mundo, por meio da cooperação internacional entre organizações de ajuda, médicos, governos e a indústria farmacêutica.

May considera a meta "ambiciosa", certamente possível para algumas doenças, mas extremamente difícil para outras. Em vista das muitas crises simultâneas atuais, especialistas temem que o combate às DTNs possa perder a importância.

Mas as conquistas até agora também alimentam esperança, diz May. Décadas de esforço resultaram na derrota de pelo menos uma DTN em 43 países e mais de 600 milhões de indivíduos não necessitam mais medicamentos. Doenças como oncocercose e cegueira devido a infecções por tracoma tornaram-se muito mais raras, graças à melhoria da educação em saúde e ao fornecimento direcionado de medicamentos.

E a mortífera doença do sono, que costumava ser generalizada, foi quase inteiramente derrotada. "Por muitos anos, só podíamos tratar a doença do sono por via intravenosa, com muitos efeitos colaterais graves. Um medicamento oral está disponível há alguns anos e foi um ponto de virada. Em 2020, tínhamos apenas 650 pacientes."

No entanto, para desenvolver bons diagnósticos, medicamentos e, em alguns casos, vacinas, são necessários mais recursos e ainda mais comprometimento dos governos de todo o mundo. Organizações de ajuda e especialistas em saúde estão agora exigindo consequências financeiras e mais dinheiro para programas de DTNs.



Thursday, April 11, 2024

Martianization - Incêndios em áreas de florestas maduras da amazônia cresceram 152% em 2023, aponta estudo - Análise de imagens de satélite mostra que aumento vai na contramão da queda no desmatamento no bioma

 

Incêndio na floresta amazônica na cidade de Bonfim, em Roraima, em fevereiro - Bruno Kelly



Luciana Constantino/By Folha
AGÊNCIA FAPESP

Mesmo com a redução do desmatamento na amazônia em 2023, o bioma vem enfrentando outro desafio: os incêndios em áreas de vegetação nativa ainda não afetadas pelo desmatamento.

Estudo publicado na revista científica Global Change Biology alerta que os incêndios em áreas das chamadas florestas maduras cresceram 152% no ano passado em comparação a 2022, enquanto houve uma queda de 16% no total de focos no bioma e redução de 22% no desmatamento.

Ao destrinchar as imagens de satélite, os pesquisadores detectaram que os focos em áreas florestais subiram de 13.477 para 34.012 no período.

A principal causa são as secas na amazônia, cada vez mais frequentes e intensas. Além dos eventos prolongados registrados em 2010 e 2015-2016, que deixam a floresta mais inflamável e provocam a fragmentação da vegetação, o bioma passa por uma nova estiagem no biênio 2023-2024, o que agrava ainda mais a situação.

Tanto que o programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), aponta que o total de focos de calor no primeiro trimestre de 2024 em toda a amazônia foi o maior dos últimos oito anos — 7.861 registros entre janeiro e março, representando mais de 50% das notificações no país (o cerrado vem em seguida, com 25%).

O mais alto número até então havia sido no primeiro trimestre de 2016 —8.240 para o total do bioma.

"É importante entender onde os incêndios estão ocorrendo porque cada uma dessas áreas afetadas demanda uma resposta diferente", afirma o especialista em sensoriamento remoto e autor correspondente do artigo Guilherme Augusto Verola Mataveli, da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Inpe.

"Quando analisamos os dados, vimos que as florestas maduras queimaram mais do que nos anos anteriores. Isso é particularmente preocupante não só pela perda de vegetação e desmatamento na sequência, mas também pela emissão do carbono estocado."

Mataveli está atualmente no Tyndall Centre for Climate Change Research, no Reino Unido, onde desenvolve parte de seu pós-doutorado sobre emissão de gases de efeito estufa por queimadas com o apoio da Fapesp, que também financia o trabalho por meio de outros quatro projetos.

No ano passado, alguns pesquisadores do grupo publicaram outro trabalho já mostrando o aumento de incêndios em uma fronteira emergente de desmatamento no sudoeste do Amazonas, na região de Boca do Acre, entre 2003 e 2019.

"Além da gravidade dos incêndios em áreas de florestas maduras atingirem, por exemplo, árvores mais antigas, com maior potencial de estoque de carbono, contribuindo para o aumento do impacto das mudanças climáticas, há o prejuízo para as populações locais. Manaus é um desses casos, que foi a segunda cidade com a pior qualidade do ar no mundo em outubro do ano passado", completa Mataveli.

Outros estados registraram situação semelhante, incluindo o Pará, onde a contagem de focos de calor em florestas maduras em 2023 foi de 13.804 —contra 4.217 em 2022.

Neste ano de 2024, uma das piores situações está em Roraima, que concentra mais da metade dos registros do bioma.

Com a quinta maior população indígena do país —97.320 pessoas—, o estado viu 14 dos seus 15 municípios decretarem emergência em março por causa do fogo. A fumaça levou à suspensão de aulas e a seca severa tem afetado comunidades indígenas, deixando-as sem acesso a alimentos e expostas a doenças respiratórias, entre outros impactos.

O Ibama/Prevfogo diz que tem atuado, desde novembro do ano passado, em conjunto com outras instituições nas ações de prevenção e no combate aos incêndios, atualmente concentrados em diferentes regiões de Roraima. Segundo o órgão, desde janeiro, são mais de 300 combatentes, além de quatro aeronaves que dão apoio ao trabalho.

"As mudanças climáticas são apontadas como um fator crítico para o aumento de episódios de incêndios, tendo o El Niño como fator agregador de risco devido à sua relação com a estiagem prolongada na região", informa o Ibama/Prevfogo em resposta à Agência Fapesp.

"Ressaltamos a importância da atuação dos órgãos ambientais estaduais e municipais no combate aos incêndios, em colaboração com os entes federais. Essa parceria é fundamental para permitir uma ação mais estratégica e eficaz na prevenção e no combate aos incêndios florestais."

Procurado pela reportagem, o MMA (Ministério do Meio Ambiente) reforçou em nota os pontos destacados pelo Ibama.

RESILIÊNCIA

A mortalidade de árvores induzida pelo fogo em áreas de floresta excede frequentemente 50% da biomassa acima do solo, ou seja, os incêndios têm potencial para reduzir significativamente os estoques de carbono principalmente no longo prazo.

Neste ano, esse efeito já foi sentido. Em fevereiro, as emissões por queimadas no Brasil bateram recorde, atingindo o mais alto índice em 20 anos —4,1 megatoneladas (cada megatonelada equivale a 1 milhão de toneladas) de carbono, alavancadas por Roraima, segundo o observatório climático e atmosférico europeu Copernicus.

Além disso, a resiliência da floresta fica comprometida, afetando, entre outros, sua capacidade de criar um microclima úmido abaixo do dossel das árvores para conter e reciclar a umidade dentro do ecossistema.

Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que a crescente inflamabilidade da floresta torna-se um desafio para os agricultores tradicionais —eles normalmente usam o fogo controlado como forma de manejo de áreas de subsistência. Isso demanda incentivo a cadeias de produção para que sejam livres dessa prática.

Líder do grupo e coautor do artigo, o pesquisador Luiz Aragão ressalta que, "à medida que o tempo passa sem soluções efetivas para o problema do fogo na região amazônica, o bioma se torna mais vulnerável, com impactos ambientais, sociais e econômicos". Aragão explica que, mesmo reduzindo as taxas de desmatamento, a área impactada por esse processo continua crescendo.

"Já havíamos previsto isso em 2010 em uma publicação de nosso grupo no periódico Science. Tanto as áreas já desmatadas quanto aquelas em processo de remoção da floresta constituem fontes ativas de ignição do fogo pelo homem. Como o desmatamento fragmenta a paisagem, criando mais bordas entre as florestas e as áreas abertas, as florestas maduras ficam mais permeáveis ao fogo", avalia Aragão.

"Somando as secas extremas, como a atual, à configuração da paisagem fragmentada, o uso contínuo do fogo na região e a presença de áreas florestais mais degradadas, por incêndios passados, extração ilegal de madeira e efeito de borda, espera-se uma floresta cada vez mais inflamável. Medidas urgentes são necessárias para mitigar os incêndios e manter a amazônia como o maior bem do país para alcançar o desenvolvimento nacional sustentável."

O grupo sugere ainda o aumento de operações de comando e controle e a expansão de brigadas de incêndio, além do desenvolvimento constante de sistemas de monitoramento.

"Com o uso de inteligência artificial, podemos tentar desenvolver sistemas que, além de mostrar onde ocorreram os incêndios, façam uma predição dos locais com mais propensão de ocorrer e assim ter áreas mais específicas como foco de prevenção", complementa Mataveli.

O artigo científico pode ser lido aqui (em inglês). Veja Fotos e Vídeos aqui - https://www.folha.uol.com.br/

Monday, April 8, 2024

Martianization - Scientists confirm record highs for three most important heat-trapping gases - The Guardian

 

A young woman protects herself from the sun in São Paulo, Brazil, on 14 November 2023. Photograph: Sebastião Moreira/EPA



The levels of the three most important heat-trapping gases in the atmosphere reached new record highs again last year, US scientists have confirmed, underlining the escalating challenge posed by the climate crisis.

The global concentration of carbon dioxide, the most important and prevalent of the greenhouse gases emitted by human activity, rose to an average of 419 parts per million in the atmosphere in 2023 while methane, a powerful if shorter-lasting greenhouse gas, rose to an average of 1922 parts per billion. Levels of nitrous oxide, the third most significant human-caused warming emission, climbed slightly to 336 parts per billion.

The increases do not quite match the record jumps seen in recent years, according to the National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa), but still represent a major change in the composition of the atmosphere even from just a decade ago.

Through the burning of fossil fuels, animal agriculture and deforestation, the world’s CO2 levels are now more than 50% higher than they were before the era of mass industrialization. Methane, which comes from sources including oil and gas drilling and livestock, has surged even more dramatically in recent years, Noaa said, and now has atmospheric concentrations 160% larger than in pre-industrial times.

Noaa said the onward march of greenhouse gas levels was due to the continued use of fossil fuels, as well as the impact of wildfires, which spew carbon-laden smoke into the air. Nitrous oxide, meanwhile, has risen due to the widespread use of nitrogen fertilizer and the intensification of agriculture.

“As these numbers show, we still have a lot of work to do to make meaningful progress in reducing the amount of greenhouse gases accumulating in the atmosphere,” said Vanda Grubišić, director of Noaa’s global monitoring laboratory.

The increasing presence of greenhouse gases is spurring a rise in global temperature – last year was the hottest ever measured worldwide – and well as associated impacts such as floods, droughts, heatwaves and wildfires.

It is also pushing the world into a state not seen since prior to human civilization. Carbon dioxide levels today are now comparable to what they were around 4m years ago, Noaa said, an era when sea were around 75ft higher than they are today, the average temperature was far hotter and large forests occupied areas of the now-frozen Arctic.

Because of a lag between CO2 levels and their impact, as well as the hundreds of years that the emissions remain in the atmosphere, the timescale of the climate crisis is enormous. Scientists have warned that governments need to rapidly slash emissions to net zero, and then start removing carbon from the atmosphere to bring down future temperature increases.

Sunday, March 17, 2024

Massachusetts town grapples with sea rise after sand barrier fails - TheGardian

A sand dune erected to protect homes in Salisbury, Massachusetts, washed away in three days. Photograph: WCVB Channel 5 Boston
 

A $500,000 sand dune collapsed in days after being erected, and residents are looking for help to protect their homes


On the border with New Hampshire and Massachusetts – about 35 miles north of Boston – is Salisbury, a coastal town and popular summer destination for tourists. But for those who live in the town year round, especially those who live on the coastline, life’s not a beach.

Last month, after a series of storms battered the area, local citizens came together to take the necessary steps to protect their homes. Volunteer organization Salisbury Beach Citizens for Change raised more than $500,000 to erect a 15,000-ton sand dune – a formidable barrier that would hopefully protect at least 15 beach houses from destruction.

Or so they thought. The sand dune was completed after one month in early March, but just three days later, the dune – and nearly half a million dollars lost

The tragic incident made the project a laughingstock to some and angered others.

But Tom Saab, the president of the organization, doubled down on the dune.

“The dunes we built were sacrificial. They sacrificed themselves to protect the properties. Water didn’t go into people’s living rooms, destroy houses, destroy decks, patios and so on. So the dunes worked,” Saab said. “However, now we’re vulnerable to another nor’easter because we need to somehow replenish what we lost.”

On the Salisbury Beach Citizens for Change’s Facebook page, one person commented on a post about the sand dune debacle: “Your houses sit right on an ever rising and ever violent sea. Do you really think any amount of money will stop what’s inevitable?”

As weather patterns get more extreme and oceans get warmer, sea levels rise due to thermal expansion and weather patterns get more extreme, boosting coastal erosion. This climate crisis is now on the doorstep of Salisbury beach homeowners, as they suffer the consequences of rising sea levels, stronger winds and severe storms in recent months, including two in January.

“It was devastating,” Saab said about the recent storms. “Water went from the ocean into people’s living rooms and kitchens. Patios were destroyed. And at least one home was deemed uninhabitable.”

It’s a problem which Saab said should now officially be the responsibility of the government, as Salisbury is a public state beach and the area is susceptible to nor’easters and hurricanes due to its proximity to the Atlantic Ocean. So now his group is pushing for state assistance.

“You just need financial help from the state. And there’s a problem,” Saab said. “Governor [Maura] Healey’s administration is a major hindrance to protecting the beach.”

After several meetings with local and state government officials, including one on 14 March, Saab kept getting the same answer. The state has yet to pitch in financially for some kind of protection mechanism against the encroaching tides, the most recent of which was a record 14ft.

Saab said he suggested cheaper alternatives to protecting the homes, including filling plastic trash bags with sand to create a barrier or sand harvesting, which Saab described as a fairly simple and much more affordable option.

New Data Details the Risk of Sea-Level Rise for U.S. Coastal Cities

Tuesday, February 20, 2024

Aquecimento global e descaso impulsionam dengue no Brasil


 

Gustavo Basso de São Paulo DW

Dados do governo indicam que país pode ter pior epidemia de dengue da sua história em 2024. Calor extremo e locais com acúmulo de lixo favorecem proliferação do mosquito transmissor da doença.




Resistindo às dores no quadril e coceira pelo corpo, o aposentado Aramis de Lima, de 62 anos, assiste com alívio a um batalhão de funcionários da limpeza pública retirarem cerca de duas toneladas de lixo e entulho do terreno vizinho a sua casa. Ele acredita que, se tivessem vindo duas semanas antes, já em meio à rápida expansão da dengue, teria escapado de sua primeira contaminação pela doença.

"Aqui na rua, 90% dos moradores pegou, certamente por causa desse lixo que estava acumulado", acredita. "Minhas netas tiveram sintomas que provavelmente foram de dengue, mas eu tenho histórico de amputação, dores em decorrência disso, aí juntou com a doença e resultou em dores muito fortes, espasmos musculares. Foi complicado", conta. Como sequela temporária, comum para a doença, ficaram as coceiras pelo corpo.

Pelas ruas da Vila Jaguara, na zona oeste de São Paulo, não faltam áreas e terrenos que sejam alvos da indignação de Lima e seus vizinhos. Numa área de pouco mais de dois quilômetros quadrados, equipes de saúde mapearam ao menos seis ferro-velhos e focos de acúmulo de lixo e entulho perfeitos para a procriação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, do zika vírus e da chikungunya.

Paralelamente, 7.369 imóveis receberam intervenções com inseticida ou assistência social para evitar os focos do mosquito entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano.

Os esforços, porém, não tiveram sucesso e não impediram a Vila Jaguara de deter o título de epicentro da dengue no município de São Paulo. Por lá, a taxa de contaminação é 28 vezes maior que a média paulistana. No Brasil, perde apenas para o Distrito Federal, onde cerca de 2,5% da população contraiu o vírus da dengue nos últimos meses.


Estufa de mosquito

Em condições normais de temperatura e chuva, o ciclo de vida do Aedes aegypti, da colocação dos ovos até a formação do mosquito, é de sete a dez dias, explica o coordenador de vigilância em saúde da capital paulista, Luiz Artur Caldeira.

"Se a condição for, por exemplo, de muito calor intenso, esse período pode baixar para até quatro dias, dobrando assim o número de mosquitos em relação ao ciclo normal", alerta. "Isso é algo que vem ocorrendo em boa parte do país desde pelo menos setembro do ano passado, muito por conta do El Niño", afirma, referindo-se ao fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador.

Especialistas vem alertando que os fenômenos climáticos extremos de 2023 são fruto direto do aquecimento global provocado pela ação humana. No entendimento do epidemiologista e professor da USP Paulo Lotufo, o que a atual epidemia de dengue ilustra é a extensão dos impactos que as mudanças climáticas gerarão sobre as populações humanas.

"Quanto maior for o aquecimento do planeta, mais o mosquito vai conseguir se reproduzir. Tanto é assim que ele já está chegando a lugares onde há muito tempo não estava, como Estados Unidos e Argentina. Até bem pouco tempo seria inimaginável fazer fumigação às margens do rio Sena, em Paris, para eliminação do Aedes", explica.

Com o calor dos últimos meses, os brasileiros vêm sentindo na própria saúde essa explosão da proliferação dos mosquitos. Em todo o país, o número de casos confirmados ou sob suspeita de dengue já passa de 653 mil — ou um infectado a cada 347 mil brasileiros. No mesmo período de 2023, o número de casos não chegava a 130 mil. Trata-se de um aumento de 294% de um ano para o outro, e que já provocou 113 mortes, enquanto 438 estão sendo investigadas.

Pelos dados do Ministério da Saúde, o avanço da dengue nunca foi tão rápido no Brasil, e o país pode chegar a 4,2 milhões de casos até o fim do ano.

"A taxa de letalidade da população como um todo varia de 3 a 7 por mil, ou seja, 0,3% a 0,7%. Quando eu falo que a taxa de letalidade da dengue é de cerca de 1%, o pessoal fala 'puxa, é pouco', mas não é! É o dobro do que é esperado sem a doença", ressalta Lotufo.



Imunização lenta

De todas as unidades da federação, o Distrito Federal apresenta o cenário mais complicado. Até 10 de fevereiro, data do último boletim epidemiológico, haviam sido registrados 23 óbitos pela doença em meio ao surto, que do ano passado para este explodiu em mais de 1.000%, atingindo quase todas as regiões com gravidade. Na capital do país, quase metade das mortes por dengue é de pessoas com mais de 60 anos.

Apesar da estimativa de que 70% da população da Vila Jaguara, em São Paulo, esteja nesse grupo, nenhuma morte foi registrada por dengue neste ano no bairro. O que não impede, entretanto, que moradores mais velhos temam a doença.

"Moro há 60 anos aqui e nunca vi nada parecido. Até mesmo minha filha e meus netos têm deixado de me visitar nas últimas semanas por medo desse surto provocado pelo lixo espalhado. Esperamos que agora melhore, mas o repelente está sempre na mão, não desgrudamos dele", conta a aposentada Nanci Albanez, que diz aguardar ansiosa pela vacina, que não tem prazo para chegar à maior cidade do país.

Por conta de limitações na produção da farmacêutica japonesa Takeda Pharma, o Ministério da Saúde adquiriu para este ano o suficiente para imunizar 2,5 milhões de pessoas com a vacina Qdenga. Por conta disso, apenas 10% de todos os municípios do país serão contemplados este ano, 11 deles em São Paulo, onde a vacinação começa nesta terça-feira (20/02), com crianças entre 10 e 11 anos na região do Alto Tietê.

A partir de 2025, entrará em campo ainda a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, que ao contrário da japonesa, exige aplicação única. O epidemiologista Paulo Lotufo, porém, enfatiza que a vacina é um auxiliar e que, agora e no futuro, o fundamental é reduzir o contato da população com o mosquito.



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