Governo
Biden diz que vai trabalhar com setor privado e povos indígenas pela
preservação no Brasil
WASHINGTON
As taxas de desmatamento da
Amazônia "ainda são alarmantes e exigem atenção redobrada
e ação reforçada" do governo, disse o Departamento de Estado dos Estados
Unidos nesta sexta-feira (12), após a divulgação dos dados mais recentes do
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Os números apontam que, de agosto de 2021 até julho
de 2022, foram derrubados 8.590,33 km² do bioma, o equivalente a mais de cinco
cidades de São Paulo. O novo dado só fica atrás dos períodos de 2019-2020 e de
2020-2021, respectivamente o primeiro e o segundo ano com maiores desmates,
segundo o Deter.
O Deter não tem a função de mensuração precisa de
desmatamento. Para isso, o Inpe conta com o Prodes, sistema com maior precisão
que divulga os dados de desmate —computados sempre de agosto de um ano a julho
do ano seguinte— nos últimos meses do ano. Mesmo assim, a partir do Deter, cujo
objetivo primário é o auxílio a operações de combate ao desmate, é possível ver
se há tendências de queda, manutenção ou aumento de destruição.
À Folha, o
Departamento de Estado afirmou que os EUA "continuarão a trabalhar"
com partes interessadas na preservação da floresta, "inclusive no setor
privado, sociedade civil, povos indígenas e governos subnacionais" na
conservação e restauração de florestas, além de "incentivar o governo a
implementar políticas" para cumprir os objetivos acordados na COP26, entre os
quais acabar com o desmatamento ilegal até 2028 e reduzir as emissões de
poluentes em 50% abaixo dos níveis de 2005 até 2030.
"Saudamos as metas ambiciosas anunciadas pelo governo
brasileiro na COP26 e em outros fóruns internacionais. O foco agora mudou para
a implementação desses objetivos."
"Também estamos aumentando nosso foco em apoiar os esforços
de fiscalização do Brasil para combater o desmatamento ilegal. Estamos ansiosos
para saber mais sobre os esforços do governo do Brasil para reduzir o
desmatamento à luz dos números mais recentes", disse o órgão.
O compromisso com as pautas de preservação ambiental foi um dos
principais pontos de tensão entre os governos Jair Bolsonaro e Joe Biden, com o
democrata e correligionários criticando o mandatário brasileiro pelo pouco
apreço à pauta ambiental.
Os números divulgados nesta sexta deixam ainda mais consolidados os patamares altíssimos de desmatamento alcançados durante o governo Bolsonaro.
Só no ciclo mais recente (agosto/21 até julho/22) foram cinco meses com os números mais elevados de destruição já vistos para aqueles meses: outubro (876,56 km²), janeiro (430,44 km²), fevereiro (198,67 km²), abril (1.026,35 km²) e junho (1.120,2 km²).
Levando em conta dados do Deter, já foram derrubados mais de 31 mil km² de Amazônia desde o início do governo Bolsonaro, em 2019. Isso equivale a, aproximadamente, mais de 720 km² de floresta indo ao chão mensalmente, o que representa mais de 450 parques Ibirapuera destruídos todo mês.
O valor é consideravelmente superior ao que se via em mandatos presidenciais anteriores. De agosto de 2015 (início do novo Deter) até o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) pela abertura do processo de impeachment, em maio de 2016 (nove meses), foram derrubados cerca de 364 km² de Amazônia por mês.
Nos 32 meses do governo de Michel Temer (MDB), já levando em conta os meses de afastamento de Dilma, foram desmatados cerca de 420 km² de Amazônia por mês.
Bolsonaro chegou também a desautorizar operação de combate ao desmate em andamento. No primeiro ano de governo, conforme dados do Deter apontavam uma disparada na destruição, o presidente questionou a qualidade do trabalho do Inpe, afirmando que o então diretor do instituto, Ricardo Galvão (agora pré-candidato a deputado federal pela Rede Sustentabilidade), poderia estar a "serviço de alguma ONG". Galvão respondeu ao ataque sofrido e acabou deixando o Inpe.
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