Letícia Naomeda CNN*
em São Paulo
O rei Charles III,
sucessor da Rainha Elizabeth II, coroado neste sábado (6), passa a
assumir novas responsabilidades e compromissos como chefe de Estado do Reino Unido.
Isso
implica que ele deve deixar de lado algumas funções de quando era
príncipe. Entre elas, seu ativismo em causas ambientais, o que inclui a
defesa da natureza, agricultura orgânica e a luta contra as mudanças climáticas.
Mas, pode ser que use seu poder de influência para que a agenda ecológica avance.
Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência
Internacional da FGV, explica que esse interesse de Charles III por
causas ambientais surgiu porque ele era um jovem monarca que queria
contribuir e mostrar sua opinião sobre determinados temas. Isso
coincidiu com um período em que o tema ambiental começa a ser assunto.
“Antes de a questão climática ser uma moda, uma tendência, ele já estava
falando sobre isso.”
Sua primeira aparição pública para discursar
sobre o assunto ocorreu há 53 anos, em 19 de fevereiro de 1970, quando
lançou o Ano Europeu de Conservação no País de Gales.
Charles
abordou problemas que relacionados à questão da conservação, como o
crescimento populacional, a escassez de recursos, a poluição, o lixo, e
propôs algumas soluções, apesar de reconhecer em outro momento que a
barreira humana pode impedir que elas aconteçam.
“Um dos problemas
mais básicos são as pessoas. Por mais cuidadoso que você planeje ou
proponha, inevitavelmente, em algum momento, você se deparará com a
natureza humana e obstáculos impenetráveis de obstinação e preconceito.
São dificuldades que devem ser vistas e levadas em consideração”, diz no
discurso de 1970.
Paz explica que a fala do então príncipe ocorre no contexto em que a
família real – uma Monarquia Constitucional – evitava ao máximo emitir
opiniões. “Ele buscou alguns temas que julgava necessário, que chamava
sua atenção e que ele queria estudar e se posicionar”, acrescenta.
Em sua primeira ação relacionada a isso, em 1985, ele
converteu a Home Farm, que ficava próxima à sua propriedade de
Highgrove, para a produção de agricultura orgânica, a transformando em
1990 na marca Duchy Originals.
O rei Charles III também se
envolveu na área ambiental por meio da Prince’s Foundation – que busca o
equilíbrio, a ordem e a relação dos seres humanos com a natureza –,
Sustainable Markets, – criada para acelerar a transição do setor privado
a um futuro sustentável – e uma TV voltada a documentários e outras
produções sobre a área ecológica – a Re:TV.
O Prince’s Rainforest
Project, fundado em 2007, foi criado com o objetivo de combater o
desmatamento em florestas tropicais – como no Brasil – e, como
consequência, o aumento das emissões de carbono. Charles III se
sensibilizou mais com o desaparecimento das florestas após um painel
intergovernamental que tratava do assunto.
O então príncipe Charles e sua esposa, Duquesa da Cornualha, comemoram
21º aniversário da marca de alimentos orgânicos Duchy Originals, em
setembro de 2013 / Dan Kitwood -WPA Pool/Getty ImagesInfluenciador?
Atuando há tantos anos na causa ambiental, a
expectativa é que o novo rei exerça alguma influência para essas
questões. “Tem um conjunto de ambientalistas que acham que o rei Charles
acaba sendo um dos principais diplomatas da questão climática”, destaca
Leonardo Paz, da FGV.
Pelo status que tem, além da compreensão
sobre o tema, “ele tem capacidade de entrar em certo os círculos, de
falar com certas pessoas, chefes de governo, líderes de indústria”, diz.
No caso do Brasil em particular, recentemente teve uma conversa com o presidente Lula por telefone, e busca uma parceria para aprofundar as discussões sobre as questões climáticas e do meio ambiente.
Mas
agora, como o rei do Reino Unido, terá que tratar do assunto de outra
forma. No caso da agricultura orgânica, por exemplo, sua marca Duchy
Originals passará a ser comandada do príncipe William.
Apesar
disso, o seu poder de influência pode dar luz à causa e, de certa forma,
colocar o assunto em pauta no governo britânico. Ele não pode “propor
uma política robusta como o primeiro-ministro faria e advogar em torno
disso, mas ele tem capacidade de influenciar os políticos interessados
nesse tema, que vão contar com um grande aliado que é o rei”, explica
Paz.
Além disso, há o peso da opinião de um rei, “ainda mais no
momento em que a opinião pública via mídia social, via imprensa, cada
vez mais tem a capacidade de pressionar negócios, indústrias”.
Contradições
Apesar
de toda essa preocupação com o meio ambiente e diversas ações
realizadas, o especialista da FGV explica que Charles III vem sofrendo
com críticas, especialmente às relacionadas ao uso de helicópteros e
jatos, grandes emissores de gases do efeito estufa.
“Quando
divulgamos coisas como o meio ambiente, em um contexto onde tudo que
fazemos tem algum impacto no ambiente, vai ter sempre alguém que vai nos
criticar em relação a essa ‘suposta hipocrisia'”, lembra Paz.
No
entanto, o novo rei encontrou maneiras de mitigar seus hábitos não
sustentáveis, ao adotar uma pegada de carbono mais consciente. Paz
destaca que Charles converteu a matriz elétrica de algumas de suas
propriedades para a solar e utiliza biocombustível em seus veículos, em
vez de gasolina, por exemplo.
“No final das contas não tem jeito.
Ainda mais uma pessoa que vive um estilo de vida da realiza britânica,
sem dúvida, vai ter uma pegada de carbono intensa”.
*Sob supervisão de Ana Carolina Nunes. Com informações da CNN Brasil e de Julia Horowitz, da CNN Internacional.
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